terça-feira, 9 de novembro de 2010

sociedde e educação

II – SOCIEDADE E EDUCAÇÃO

A educação é um ato político coletivo fruto da ação de todos os envolvidos na dinâmica do processo ensino-aprendizagem. E para compreendê-la temos que vinculá-la às condições estruturais da sociedade, bem como ao conjunto das relações sociais que se dão em cada contexto histórico.
Assim, aspectos econômicos, políticos e sociais de cada sociedade é que configuram a concepção de homem, de sociedade e de mundo; conseqüentemente, de educação, pois esta é fruto das necessidades de cada momento.
O homem agia sobre a natureza devidamente e a educação coincidia com o próprio ato de agir e existir (o trabalho). A partir das sociedades antigas ou escravista, medieval ou feudal, onde havia uma pequena classe de proprietários e de uma grande massa de não proprietários, a escola aparece como secundária e dependente do trabalho, pois a maioria se educava pelo trabalho, só a minoria tinha acesso à forma escolar de educação.
Com a época moderna (sociedade capitalista), os meios de produção passam a assumir a forma de capital (acúmulo de riqueza).
Nesta sociedade (capitalista), baseada nas relações formais, centrada não mais no campo, mas na cidade e na indústria, a escola se generaliza e se torna a forma dominante e principal de educação. Isto porque, na época moderna, a incorporação da ciência ao processo produtivo envolve a exigência da disseminação dos códigos formais de escrita, o acesso à cultura letrada, o domínio dos números e dos elementos necessários para conhecer cientificamente a realidade. O domínio deste saber global se torna, então, uma necessidade generalizada.
Com a pós-modernidade uma gama grande de informações exige leitura não só dos códigos formais escritos, mas também de entrelinhas, capacidade de análise e síntese, de discernir o que é significativo. A internet bombardeia o indivíduo e exige um ser crítico, capaz de selecionar, categorizar e absorver idéias, que no cômputo geral, possibilite a construção de conhecimentos, propicie um trajeto que culmine com a competência.
Quanto mais dinâmica se torna uma sociedade tecnológica, a qual modifica rapidamente os processos produtivos e aumenta os seus conteúdos científicos, tanto mais necessária uma estrutura educativa que estabeleça um tempo maior de convívio escolar oportunizando a socialização e o emprego eficaz do tempo.
O Ensino Fundamental de nove anos assegura um tempo maior de convívio escolar. Novas preocupações, novos encaminhamentos, estruturações de espaços físicos, e principalmente, novas concepções sobre desenvolvimento humano envolvem a escola de tempo integral.
Conforme Lima (2002): Se o objetivo da escola é promover a aprendizagem humana, o critério fundamental deveria ser a organização do tempo de forma que os indivíduos envolvidos sejam a prioridade e que, portanto, a concepção de tempo acompanhe os processos de aprendizagem tal como eles ocorrem na espécie humana.
A LDB n° 9394/96 define como finalidade da educação “o pleno desenvolvimento do educando, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho” (art. 2°). Essa finalidade leva à preocupação com o desenvolvimento do ser humano numa dimensão maior, um desenvolvimento integral e contínuo de um cidadão que encontra-se no centro do processo educativo, cuja vivência, experiência e valores representam o ponto de partida de qualquer planejamento e organização.
Daí, a necessidade e a importância da construção de uma proposta pedagógica que supere práticas escolares ultrapassadas e que resgate a própria escola enquanto espaço, através do processo aberto e consciente, de reflexão coletiva.
Luck e Carneiro enfatizam a perspectiva de que a escola deve responsabilizar-se não apenas para a formação dos conhecimentos e habilidades intelectuais, mas principalmente pelo desenvolvimento integral da personalidade humana, cumprindo assim a função da escola no desenvolvimento integral do educando.
Faz-se necessário estabelecer um norte pedagógico em meio às diferentes concepções e posturas pedagógicas para formar o cidadão pensante e ativo.
A concepção pedagógica coerente à psicologia histórico-cultural, é a Pedagogia Histórico-Crítica. Essa concepção defende a especificidade do papel da escola na transmissão do conhecimento científico, a importância do trabalho escolar como elemento necessário ao desenvolvimento cultural e a compreensão da realidade humana como sendo construída pelo próprio homem através do trabalho.
Desta forma, a escola é compreendida a partir do desenvolvimento da sociedade sendo a educação um processo mediador entre a vida do indivíduo e a história, entre os conteúdos historicamente produzidos pela humanidade e o aluno, objetivando a apropriação desses conhecimentos.
Segundo Duarte (2001), a pedagogia histórico-crítica, apresenta uma crítica radical ao “aprender a aprender” (historicamente a Rede Municipal de Ensino de Araucária tem buscado o desenvolvimento de uma pedagogia que possibilite aos sujeitos envolvidos nos processos educativos, a superação das exclusões sociais e culturais produzidas pela sociedade capitalista) e às interpretações neoliberais e pós-modernas, defendendo como tarefa central da escola a socialização do saber historicamente produzido, procurando levantar no campo da educação escolar as contradições da sociedade capitalista, especificamente a contradição no processo de produção e consumo da cultura.
Essa contradição é representada pela distância que há entre o desenvolvimento exacerbado dos meios de produção e difusão cultural junto a “crescente exigência de generalização da cultura” e, por outro lado, as “dificuldades crescentes que as relações sociais burguesas impõe ao desenvolvimento cultural” (Saviani1997a, apud Duarte,2001, p.11).
Saviani (2003), afirma que a tarefa da pedagogia histórico-crítica em relação à educação escolar consiste em realizar a :
a) Identificação das formas mais desenvolvidas em que se expressa o saber objetivo produzido historicamente, reconhecendo as condições de sua produção e compreendendo as suas principais manifestações bem como as tendências atuais de transformação;
b) Conversão do saber objetivo em saber escolar de modo a torná-lo assimilável pelos alunos no espaço e no tempo escolares;
c) Provimento dos meios necessários para que os alunos não apenas assimilem o saber objetivo enquanto resultado, mas apreendam o processo de sua produção bem como as tendências de sua transformação ( SAVIANI, 2003, p.09).
A teoria pedagógica histórico-crítica parte do pressuposto de que é viável, mesmo numa sociedade capitalista, “uma educação que não seja, necessariamente, reprodutora da situação vigente, e sim adequada aos interesses da maioria, aos interesses daquele grande contingente da sociedade brasileira, explorado pela classe dominante” (p.94).
Segundo Saviani, a pedagogia histórico-crítica, embora “ consciente da determinação exercida pela sociedade sobre a educação”, fato que a torna crítica, acredita que “a educação também interfere sobre a sociedade, podendo contribuir para a sua própria transformação”(p.94).
A tese de Saviani, de que a escola pode agir sobre a sociedade, no sentido de transformá-la, é incompatível com o determinismo histórico. Se a escola pode fazer uma diferença acerca de como ser uma sociedade, ela afeta o futuro e o futuro, portanto, não pode estar determinado. A pedagogia histórico-crítica, portanto, se levada a sério, nega um postulado essencial ao marxismo, os pressupostos desta pedagogia tem muito mais em comum com a pedagogia tradicional (com sua ênfase nos conteúdos, no ensino, no professor e com a pedagogia nova (com sua ênfase na possibilidade de a educação transformar a sociedade).
A escola deve investir na formação de alunos críticos, para se engajarem na luta pela justiça social e pela sociedade humana, na preparação para o exercício da cidadania, incluindo a autonomia, a participação e o diálogo como princípio educativo, propiciando conhecimentos, procedimentos e situações para reflexões sobre valores e critérios de decisão, ação frente ao mundo da política e da economia, do consumo, dos direitos humanos, do meio ambiente, da violência e segregação social.
A compreensão da realidade contraditória é ponto de partida da educação. Segundo Vasconcelos (1994) “atuar de qualquer forma, sendo condicionados pelas pressões do ambiente (rotinas, ideologias) é fácil. Difícil é realizarmos uma ação consciente (práxis), que de fato corresponda às reais necessidades”.
A proposta de oferta de Educação de Qualidade para todos, leva a um compromisso com a Inclusão social e educacional.
Segundo as Diretrizes Curriculares do município de Araucária, o atendimento aos estudantes com necessidades educacionais especiais se dá em classes regulares sempre que possível. Processos rigorosos de avaliação educacional e psicoeducacional tornam-se necessários para a tomada de decisão sobre o que é primordial para os estudantes que apresentem necessidades educacionais especiais em termos pedagógicos e/ou terapêuticos.
Ao mesmo tempo que os alunos têm direito a convivência em turmas regulares, necessitam de acompanhamento especializado, apoio pedagógico adicional, material específico, programas educativos e terapêuticos suplementares, atendimentos paralelos em escolas especializadas e apoio de pessoal externo.
O atendimento, acolhimento às crianças independentemente de suas condições físicas, intelectuais, sociais, emocionais, linguísticas ou outras deve ser preocupação constante em todas as instâncias. O professor necessita ser um investigador, observador, buscar novas práticas pedagógicas que venham atender às necessidades específicas de cada estudante.
A concepção de criança vem sendo construída ao londo do tempo na sociedade. A criança é um ser social e histórico e faz parte de uma organização denominada família, seu referencial e é nela que estabelece as primeiras relações com a linguagem na interação com os outros. Através das brincadeiras, as crianças tentam compreender o mundo contraditório que as rodeia.
A construção do conhecimento é feita a partir de interações sociais e com o meio, essa interação se dá através do outro mais experiente (VYGOTSKY, 2005: 43).
Vygotsky (2005) considera que a criança e o objeto de conhecimento transitam um pelo outro, através de outra pessoa. Assim, são as interações sociais que permitem as significações, estas vão sendo construídas num contexto cultural, no qual encontram-se inseridos.
Apesar das diversas ciências apontarem características em comum, as crianças são indivíduos que possuem diferenças a serem respeitadas e tratadas como únicas.
A educação especial, tanto quanto a educação regular, tem caminhado historicamente no sentido de garantir o seu papel no processo de transformação da sociedade. Especialmente em relação à educação especial, esta busca tem se pautado em diferentes concepções de homem e de mundo que, consequentemente, conduzem a diferentes abordagens do ponto de vista da metodologia, pesquisa, produção tecnológica, terminologia entre outros. O processo histórico revela momentos distintos em relação ao papel e o lugar ocupado pela pessoa com deficiência na sociedade.
O modelo de desenvolvimento capitalista atual está estreitamente vinculado a uma concepção política, econômica e social que busca organizar a sociedade em função do mercado e dos interesses privados e empresariais. A educação e a escola, por sua importância política, merecem um papel de destaque nas propostas de reformas políticas e sociais, pois estas carregam implicações que trazem reflexos para a vida de todos, especialmente para aquelas pessoas e grupos que, no presente, já estão excluídos de direitos sociais. Sendo a sociedade regida por esse regime capitalista, no qual o lucro de grandes empreendimentos tem primazia sobre as necessidades individuais e de grupos menos favorecidos, ela é excludente com todos aqueles que não lhe parecem úteis social e economicamente de forma imediata.
Por sua vez, a escola inserida nesse contexto tem que fazer uma análise da dinâmica da sociedade e tomar uma decisão de estar a serviço do capital e colaborar no processo de exclusão ou assumir uma atitude ousada a favor da formação de um homem apto a produzir transformações capazes de suprir suas necessidades e transformar a sociedade em que vive. Cumprindo, assim, a educação o seu papel social. Por isso, é imperativo evitar-se a imposição às escolas de serviços que a rigor seriam de outras instituições, ampliando os deveres do professor, reforçando as modalidades de exploração e expropriação inerentes às relações de trabalho impostas pela manutenção do Estado de uma sociedade capitalista.
Nessa perspectiva, a Educação Especial também tem apresentado contradições entre reforçar conceitos enraizados que não permitem avanços pedagógicos ou ser uma promotora da emancipação humana. Sendo que, proporcionar o acesso ao conhecimento para alunos com necessidades educacionais especiais deve ser fonte de preocupação constante aos profissionais que com eles trabalham, pois a diversidade que os educandos apresentam não deve ser justificativa para prejudicar o aprendizado, e sim um dos pontos de partida para se evitar limitar seu desenvolvimento cultural e intelectual nas diversas áreas do conhecimento.
O processo de ensinar e aprender é fundamental para o desenvolvimento do ser humano. Percebendo-se a dimensão dessa importância, deve-se buscar todos os caminhos para sanar as dificuldades que o impeçam, sendo o investimento de recursos humanos, materiais, tecnológicos e científicos um dos fatores determinantes que implicam o avanço da educação. Pensar em inclusão e educação de qualidade (seja de crianças com menos idade na escola e/ou portadores de necessidades especiais) é permitir a todas as pessoas o acesso à participação efetiva na sociedade, sem permitir que interesses econômicos estejam acima dos direitos humanos.

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