terça-feira, 9 de novembro de 2010

planejamento e ensino-aprendizagem

III – PLANEJAMENTO

Planejar sob qualquer aspecto da vida, é inerente ao fazer humano. Nossa vida diária é repleta de planejamento: planeja-se horários, ações, lazer, consultas, gastos, passeios, festas, cardápios, viagens, ações de trabalho.
Planejar é um trabalho efetivo com a realidade em que vivemos e com a busca de transformação e mudanças desta realidade. Lida-se o tempo todo com o conhecimento real – elabora-se ações para intervir nesta realidade – almeja-se meios e possibilidades de transformação e mudanças. É um trabalho e um processo contínuo do ser humano.
Qualquer modalidade ou tipo de planejamento pressupõe elenco de ações, objetivos e estratégias estabelecidos para o trabalho nos níveis de curto, médio e longo prazo. Existe pelo menos três tipos de planejamento:
1. O Planejamento Empresarial – ou Gerenciamento da Qualidade Total – idealizado e formulado para atender a necessidades de instituições e empresas que visam o lucro como resultado de suas ações e trabalho, estimulando a competição e buscando meios de sobreviver no mercado. Centraliza o planejamento na resolução dos problemas que surgem e na satisfação pessoal daqueles que usufruem os serviços prestados.
2. O Planejamento Estratégico – ou Planejamento Institucional – formatado para atender a instituições que visam a análise de oportunidades, cumprimento de uma missão e visão estratégica das situações em que buscam agir e atuar. Ex.: ONG’s.
3. O Planejamento Participativo – desenvolvido para instituições, grupos ou movimentos que visam contribuir para a transformação da realidade social, interferindo e construindo nova realidade. Pressupõe participação coletiva, distribuição do poder, trabalho efetivo com a realidade. Centraliza o planejamento como ação intencional sobre a realidade. Seu foco é o bem comum público, a riqueza não-material, a formação e o desenvolvimento do ser humano, a construção da sociedade. Nesta proposta de planejamento os fins sociais são maiores que a própria instituição. Ex.: Governos e seus órgãos, Redes de Ensino Oficiais, Escolas.
Os documentos que organizam o processo de ensino e aprendizagem (Proposta Pedagógica, Proposta Curricular, Diretrizes Curriculares, Planos: de Ação da Escola – de trabalho administrativo, pedagógico e docente e o Regimento Escolar), fazem parte do PLANEJAMENTO GERAL DA ESCOLA e devem ser tomados como norte do trabalho pedagógico. É importante destacar que o Plano de Trabalho Docente é somente uma parte da relação estabelecida entre a Proposta Pedagógica e a Proposta Curricular, portanto se constitui na expressão do currículo em sala de aula, que por natureza, expressa e legitima a intencionalidade da escola.
A Proposta Pedagógica da escola é a expressão das intenções do conjunto da comunidade escolar a respeito da sociedade, a qual se possa almejar, aquela que não reproduza as condições históricas de dominação, alienação, expropriação da condição humana. Uma vez que a escola expressa essas contradições, a Proposta Pedagógica da escola deve partir do seu diagnóstico mais pontual (da comunidade escolar, das interfaces entre ensino e aprendizagem, entre professor e aluno) - o diagnóstico da própria cultura escolar e que expressa um diagnóstico mais global – o da sociedade em suas determinações. O que se vislumbra a partir do pensar coletivamente na forma pela qual a escola se organizará para avançar rumo a seu projeto educativo.
A Proposta Curricular, por sua vez, é a expressão de uma determinada concepção de educação e de sociedade, pensada filosófica, histórica e culturalmente na Proposta Pedagógica. Ela é construída pelos professores das disciplinas e mediada pela equipe pedagógica, os quais lançam mão dos fundamentos curriculares historicamente produzidos para proceder a esta seleção de conteúdos e métodos com sua respectiva intencionalidade.
O Plano de Trabalho Docente é a expressão da Proposta Curricular, a qual por sua vez, expressa a Proposta Pedagógica. O plano é a representação escrita do planejamento do professor.
Neste sentido, ele contempla o recorte do conteúdo selecionado para um dado período. Tal conteúdo traz consigo essa intencionalidade traduzida a partir dos critérios da avaliação. Para que isto se efetive o professor deve ter clareza do que o aluno deve aprender (conteúdos), por que aprender tal conteúdo (intencionalidade-objetivos), como trabalhá-lo em sala de aula (encaminhamentos metodológicos), e como serão avaliados (critérios de avaliação e instrumentos de avaliação). A seleção dos conteúdos, portanto, não é aleatória. Ela é feita exatamente com base em alguma intenção, a qual é a expressão da Proposta Pedagógica, construída coletivamente pela comunidade escolar. (Taques; Carvalho; Boni; Fank; Leutz, 2008. p. 16 e 18 ).
Deste modo, o Plano de Trabalho Docente toma como elementos para sua organização:
a) CONTEÚDOS: definidos por conteúdos estruturais, ou seja saberes – conhecimentos de grande amplitude, conceitos ou práticas - que identificam e organizam os diferentes campos de estudos das disciplinas escolares, sendo fundamentais para a compreensão do objeto de estudo das áreas do conhecimento (Arco-Verde, 2006).
O desdobramento dos conteúdos estruturais, conteúdos básicos e conteúdos específicos, a partir do quadro de conteúdos, será feito pelo professor em discussão com os demais professores da área que atuam na escola. O professor deve dominar o conteúdo escolhido em sua essência, de forma a tomar o conhecimento em sua totalidade e em seu contexto, o que exige uma relação com as demais áreas de conhecimento. Esse processo de contextualização visa à atualização e aprofundamento dos conteúdos pelo professor, possibilitando ao aluno estabelecer relações e análises críticas sobre os conteúdos. Cabe destacar que a contextualização não se faz pelo desenvolvimento de projetos, mas na abordagem histórica do conteúdo.
b) JUSTIFICATIVA: Explicita à escola os conteúdos estruturais, básicos e específicos como opção política, educativa e formativa. Refere-se às intenções educativas. Expressa as intenções de mudanças no plano individual, institucional e estrutural. Está voltada aos conteúdos e não às atividades.
c) ENCAMINHAMENTOS METODOLÓGICOS E RECURSOS DIDÁTICOS: Conjunto de determinados princípios e recursos para atingir os objetivos, o processo de investigação teórica e de ação prática. Lembrando que a opção de método adotada na rede municipal é a do método da prática social – Saviani, que determina os encaminhamentos a partir da prática social inicial dos alunos, a mediação docente de forma intencional e planejada e posterior atuação de transformação da realidade, de maneira crítica e consciente.
d) CRITÉRIOS DE AVALIAÇÃO: Definem os propósitos e a dimensão do que se avalia. Para cada conteúdo precisa-se ter claro o que dentro dele se deseja ensinar, desenvolver e, portanto, avaliar. Os critérios refletem o que vai se avaliar e são estabelecidos em função dos conteúdos.
e) REFERÊNCIAS: As referências permitem perceber em que material e em qual concepção o professor fundamenta seu trabalho e conteúdo. Fundamentar conteúdos de forma historicamente situada implica buscar outras referências, não sendo, portanto, o livro didático o único recurso.
O planejamento no âmbito escolar é “algo vivo”, pressupõe organização, determina um caminho a seguir com relação ao processo de ensino e aprendizagem, estabelece uma previsão das ações a serem executadas. Também pode refletir o sonho e a utopia que vislumbramos, uma realidade nova e transformada que almejamos. Documento que relata necessidades, possibilidades e busca de estratégias possíveis para atingir objetivos educacionais e resultados positivos quanto ao ato de ensinar e quanto ao ato de aprender.
IV – ENSINO E APRENDIZAGEM

Como nos ensina o grande educador brasileiro Paulo Freire – não há docência sem discência – nossa concepção de Ensino-Aprendizagem pressupõe o imbricamento destes dois conceitos.
Ensinar, assim como a produção da existência humana, ocorre na interação dos sujeitos e destes com um universo em constante mudança, onde o processo de produção da existência humana é um processo social; interdependente em todas as formas da atividade humana da produção de bens à elaboração de conhecimentos, costumes, valores... e segundo Marx determinadas e condicionadas pela atividade do trabalho.
No momento em que os seres humanos, intervindo no suporte, (mundo natural) foram criando o mundo, inventando a linguagem, são também modificados neste processo. Entende-se que tal processo está inserido na escola como produto do ensino aprendizagem, sendo o professor responsável por desenvolvê-lo, oportunizando ao aluno o conhecimento científico e cultural.
Mostra-se importante ressaltar que tal função é complexa, tendo em vista que o professor, para poder acompanhar este processo necessita de constante atualização e condições que favoreçam o mesmo, sendo necessário a integração da família com o objetivo comum ao da escola.
Neste sentido a educação deveria ser emancipadora, formar o indivíduo na sua totalidade para que ele possa ao apropriar-se dos saberes interferir, optar e transformar sua realidade, seu meio.
A escolas não tem acompanhado os avanços da sociedade e isso interfere diretamente na motivação do aluno.
É preciso voltar a tenção a todo o sistema de ensino para uma reformulação condizente com a realidade, com objetivos claros, que despertem o interesse do aluno no aprender para crescer, ser, para que então possa obter uma real apropriação do conhecimento.
Aprender é tomar conhecimentos por meio de estudos, observações e experiências. O conhecimento se constrói por meio das relações entre as pessoas e o ambiente de forma dialética no decorrer da história.
Aprender é um processo bilateral em que o professor e aluno aprendem, tomando conhecimento através das relações interpessoais e afetivas, por meio de estudos, observações, entendimento de conhecimentos prévios e o ambiente em que está inserido comparando, experimentando, refletindo, indagando com curiosidade e tendo mediação das pessoas a sua volta.
Para que a aprendizagem aconteça o aspecto afetivo é fundamental, porque aprendizagem pressupõe um bom vínculo afetivo entre professores e alunos, principalmente nas experiências escolares.
Nem todos os alunos aprendem de uma mesma forma. Portanto, faz-se necessário utilizar-se de vários artifícios e instrumentos para alcançar conhecimentos. O papel do professor nesse quadro é tentar perceber como o aluno constrói seu conhecimento e ajudá-lo nessa jornada. Eis uma tarefa árdua levando em conta, que são vários alunos em uma mesma sala de aula, mas vale tentar deste artifício para alcançar um ensino de qualidade, preparando-o e contribuindo na formação do indivíduo através da mediação do professor, tornando-o independente no decorrer da sua vida escolar.
A finalidade é contribuir para que o aluno desenvolva a capacidade de realizar aprendizagens significativas para si mesmo, numa ampla gama de situações e circunstâncias. Que o aluno aprenda a aprender, aumentando sua autonomia, desenvolvendo métodos de aquisição, descobertas e construção do conhecimento.
É preciso, também, que o processo de ensino aprendizagem seja impulsionando e dirigido pelos interesses e necessidades do aluno.
A educação deve preparar os indivíduos para acompanharem a sociedade em acelerado processo de mudança.
A nova educação deve pautar-se no fato de que vivemos em uma sociedade dinâmica, na qual as transformações em ritmo acelerado tornam os conhecimentos cada vez mais provisórios, pois um conhecimento que hoje é tido como verdadeiro pode ser superado em poucos anos ou mesmo em alguns meses. O indivíduo que não aprender a se atualizar estará condenado ao eterno anacronismo, a eterna defasagem de seus conhecimentos.
O sujeito deve ser estimulado a construir o seu conhecimento baseando nos princípios do pensar, do refletir para resolver os desafios das atividades dinâmicas que envolve a economia global. Ter capacidade de adaptação e de aprender a aprender e a reaprender.
Para desenvolver competências é preciso, antes de tudo, trabalhar por problemas e projetos, propor tarefas complexas e desafios que incitem os alunos a mobilizar seus conhecimentos e, em certa medida, completá-los. Isso pressupõe uma pedagogia ativa, cooperativa, aberta para a cidade ou para o bairro, seja na zona urbana ou rural.
Para Paulo Freire o trabalho do professor implica em:
Assumir-se como ser pensante, transformador;
Despertar a confiança do aluno em si mesmo;
Levar em consideração a pessoa do aluno como indivíduo único;
Relação afetividade;
“Saber” que é aprendendo que aprendemos a ensinar (professor pesquisador);
Valorizar o espaço escolar que deve ser limpo, atraente, assim o aluno aprenderá a respeitá-lo, mas isso depende de vontade política;
Investir na curiosidade do aluno que é própria e natural no educando;
Afetividade: Paulo freire acredita que o aluno aprende melhor se a relação professor - aluno for estabelecida com afetividade.
Paulo Freire aponta para a relação entre a identidade cultural na dimensão individual e na classe dos educandos para a efetivação do processo de ensino e aprendizagem. Assim, é fundamental a construção da identidade cultural da instituição escolar e sua função social para que o (a) aluno (a) seja e veja se como sujeito ativo deste processo.
Para tal, o trabalho desenvolvido pelo professor deve ser capaz de possibilitar o (a) aluno (a) a assumir-se “como ser social e histórico, como ser pensante, comunicante, transformador, criador, realizador de sonhos, capaz de ter raiva porque capaz de amar. Assumir-se como sujeito porque capaz de reconhecer-se como objeto. A assunção de nós mesmos não significa a exclusão dos outros. Então o professor deve ultrapassar as barreiras dos conteúdos para ser capaz de propiciar o desenvolvimento dessas habilidades. Ambos, professores e alunos devem aprender para transformar a realidade, não apenas repetir o que já está posto.
Para que o trabalho do professor realmente se efetive é preciso que as leis sejam cumpridas e os direitos dos professores e dos alunos sejam respeitadas, pontuamos algumas questões que nos preocupam e que muitas vezes nos deixam de mãos atadas, como: Inclusão feita sem atendimento específico a alunos e professores; Falta de formação continuada com qualidade; Número de alunos muito grande por turma; Prédios escolares em ruínas; Número de profissionais reduzido; Na área da saúde, o atendimento é lento e sem integração com as escolas; Falta de valorização aos profissionais por parte da administração; Alunos frequentam a classe de recursos, quando conseguem, pois lhes falta condução ou uma pessoa disponível que possa os acompanhar.
Pensar em cada indivíduo ( professor – aluno ) como um contribuinte no processo de ensinar – aprender deve superar a dicotomia transmissão x produção do saber levando a uma concepção de aprendizagem que permite resgatar a unidade do conhecimento, através de uma visão da relação sujeito / objeto é a realidade concreta da vida de cada aluno, como fundamento para toda e qualquer investigação. Levar em conta o que o aluno trás, pela diversidade individual e pela potencialidade que esta pode oferecer a produção de conhecimento, consequentemente ao processo de ensino e aprendizagem, tendo a necessidade de estabelecer vínculo significativos entre as experiências de vida dos alunos, os conteúdos oferecidos pela escola e as exigências da sociedade, estabelecendo também relações necessárias para compreensão da realidade social em que vive.
É fundamental a participação do aluno no processo ensino-aprendizagem, pois o indivíduo se relaciona socialmente, constantemente transforma, cria e se modifica frequentemente, ele não é um ser estático, alheio. Faz-se necessário o professor fazer a mediação entre o conhecimento adquirido socialmente e elaborado cientificamente.
Os elementos necessários são educandos e educadores críticos, investigadores, pesquisadores, inquietos, curiosos e persistentes, dispostos a desenvolver-se intelectualmente transformando a sociedade.
A aquisição do conhecimento se dá através do diálogo, troca de experiências, investigação, relação afetiva criticidade e uma relação mútua entre escola e aluno.
Acrescenta-se ainda que a solução está em partir da teoria e colocar em prática os conhecimentos adquiridos ao longo do tempo de forma crítica – reflexiva – investigativa , para pensar os conceitos atuais e passado e identificar o que há de melhor, investigativa não só para mudar como também para criar novos conhecimentos.
Os resultados do processo de ensino evidenciam o atendimento ou não das finalidades sociais da educação, relacionadas com as transformações sociais e com o desenvolvimento das capacidades dos alunos. A aprendizagem efetiva dos alunos é uma responsabilidade de todos os profissionais que atuam na escola. O professor é sem dúvida, o agente central, mas precisa contar com o apoio da escola e de seus profissionais. As dificuldades de aprendizagem, nesse sentido, não são só das crianças, são da escola , pois precisa-se aprender a lidar com elas e traçar estratégias que resultem na aprendizagem dos alunos.
Por isso ensinar não é transferir a inteligência do objeto ao educando, mas instigá-lo no sentido de que, como sujeito cognoscente, se torne capaz de inteligir e comunicar o inteligido. É nesse sentido que se impõe a todos escutar o educando em suas dúvidas, em seus receios, em sua incompetência provisória. E ao escutá-lo, aprendo a falar com ele (PAULO FREIRE, 1996: 136).

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